sexta-feira, 23 de março de 2012

Nas ondas do pop tupiniquim – como a Música Original Brasileira* se reinventa para sobreviver à exigência do ouvinte


Texto escrito pelo artista e agitador cultural Ailton Junior


As possibilidades estão se esgotando para o segmento do sertanejo pop! Eu digo que estão se esgotando porque o gênero já se reinventou muitas vezes em pouco mais de uma década de existência. Quase sempre com músicas descartáveis, mas com muita grana rolando nos bastidores, a galinha dos ovos de ouro de muito sul-matogrossense ainda terá que se desdobrar muito pra continuar rendendo bons dividendos aos seus tutores.

No início, bastava gravar um CD demo com clássicos do sertanejo raiz, à voz e violão, muito sentimento e estava pronto! Quase toda dupla que se arriscou assim há dez anos, hoje já tem seu pé-de-meia feito.

Terminada essa fase, começou outra: com contrato assinado com as gravadoras, as duplas tiveram a oportunidade de mostrar seus talentos enquanto compositores. Destacaram-se João Carreiro & Capataz, João Bosco & Vinícius e Fernando & Sorocaba, sendo assim os responsáveis (historicamente) pela concretização do gênero “sertanejo universitário” em todo o país.

Pois bem, nessa onda vieram outras duplas de talento duvidoso, como Maria Cecília & Rodolfo e Cesar Menotti & Fabiano, que mal decolaram e já caíram no ostracismo, o que não é nenhuma novidade dentro da indústria musical aos desprovidos de talento ou simpatia. Nessa altura do campeonato, a capital morena fervilhava de duplas, cantores e estúdios de gravação, acelerando ainda mais a corrida para entrar nessa onda que prometia muito suce$$o.

Surgiram então nomes solos, como o ex-gurizinho Luan Santana e o pouco creditado Michel Teló. Também pudera: quem acreditava que um hit, cujo mote era uma frase de Internet (beijos me liga), pudesse ganhar o respeito de alguém?! Mas não deu outra! Uma a uma, cada dupla sertaneja foi pegando uma frase pronta – dessas que a gente fala pra dar risada – e colocando em suas letras e refrões. Reconheço que a melhor música originada dessa tendência das frases-prontas foi a “Bruto, Rústico e Sistemático” de João Carreiro & Capataz.
Estava lançada a corrida para a próxima fórmula do sucesso, coisa que os produtores já se atentavam para saber qual a próxima idéia vigente.

Nisso, o movimento tecnobrega também reivindica seu lugar no mainstream nacional, dando início a uma fusão de estilos. O grupo D’javu fica no hype por alguns meses, que logo é tomado pelo sertanejo outra vez. Daí vem a música “Eu vou zuar e beber”, que tem aquela levada de teclados, num ritmo dançante.

Vale lembrar que, em meio a tudo isso, uma tendência mais cult começa a tomar corpo dentro do sertanejo. Por meio de duplas como Victor & Léo e a cantora Paula Fernandes, o gênero do sertão toma uma forma mais aveludada e entra nos teatros do país afora, com gravações pomposas e arranjos orquestrados. Talvez por ter sido batido demais, enfadonho demais, essa tendência permanece adormecida no momento.

Então, atirando para todo lado, ocorre o flerte do sertanejo e o axé. Luan Santanna grava com Ivete Sangalo, Guilherme & Santiago gravam DVD com trio elétrico etc. Você lembra de alguma música dessa época? Eu não...

Correm os dias, e dá-lhe sertanejo universitário pra cá e pra lá, Michel Teló mostra que não é cantor de um hit só, e na interpretação de Fugidinha, o sertanejo ganha um ar mais ritmado e carismático. De fato o Michel Teló é muito bem amparado, pois eu sempre achei que ele não ia passar do “Beijos me Liga”.

Paralelo a essa onda sertaneja, o funk também tem seu espaço garantido, até que... sim, os gênero se fundem... e surge o Funknejo!

Apenas um parêntese para extirpar a idéia de que antigamente havia mais respeito: as meninas da década de 90 rebolaram na boquinha da garrafa, as de hoje rebolam ao som de “Sou Foda”. Tudo continua igual...

Pronto, funk do morro carioca unido ao sertanejo das universidades. Muitos acreditavam que o fim estava próximo.

Mas qual não é a nossa surpresa quando o gênero – num passe de mágica – se reinventa e lança a moda das onomatopéias! E assim estamos: ao som dos “tain tains”, “tche tcherere tche tche”, “lelelê”, “Bara tcherê lê” , “Tchu tcha tcha” etc etc. Ainda estamos sob o reinado das onomatopéias, que acredito já estar chegando ao fim.

E é isso... qual será o próximo recurso do pop sertanejo? Haverá um revival das modas de viola? Há de surgir alguém pra unir Tiririca a Helena Meireles? Ou haverá a mega-fusão de Mr Catra, Calypso e Eduardo Costa num acústico na Boate Azul?

Fiquemos atentos, pois tudo pode acontecer pra quem não tem nada a perder...


* o termo Música Original Brasileira foi criado pelo crítico musical Timpin, e está relacionado às manifestações culturais do nosso povo. Você pode conhecer mais acessando o site: Cabaré do Timpin

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