terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Sertanejo e Forró - Retrato de uma relação promíscua

No post anterior falei sobre a grande ausência de hits baianos neste carnaval. Mas a coisa não está feia só por lá. O forró também vive um período muito confuso, onde a cada semana surge uma música que todos dizem ser o sucesso do verão, sem que nenhuma delas emplaque incontestavelmente no gosto popular. É cedo para se fazer uma avaliação definitiva, mas alguns aspectos globais já podem ser analisados.

Em primeiro lugar é inequívoco que 2011 foi um ano bastante peculiar, que foi inaugurado com dois hits arrasa-quarteirão: "Minha Mulher não deixa não" de Reginho & Banda Surpresa (posteriormente regravada centenas de vezes) e "Assim você me mata" de Michel Teló (anteriormente regravada centenas de vezes). Juntas, as duas músicas jogam um pouco de luz sobre ano confuso.

A primeira música praticamente inaugurou uma nova era no mercado da música sertaneja. O fato de originalmente ser um brega criado nas periferias da Grande Recife, contribui ainda mais para a peculiaridade do momento atual. Nos últimos anos, os artistas de forró regravavam e incluiam em seu repertório de shows quase todos os grande sucessos sertanejos. O contrario era mais raro, poucos artistas sertanejos regravavam sucessos do forró. O diálogo entre os dois mundos praticamente não ocorria. Era como se Norte/Nordeste fossem um país e Sul/Sudeste. "Minha mulher não deixa não" derrubou essa barreira.

Em um primeiro momento, o casamento do sertanejo com o forró seria digno de uma grande festa, o problema é que essa relação começou promíscua.

Para se entender como isso aconteceu (e se bobear tudo o que está acontecendo agora) é preciso trazer à baila um nome: Marquinhos Audiomix. Ele é considerado o homem mais poderoso da musica sertaneja atual e tem em seu cast Jorge & Mateus e Gusttavo Lima, dentre outros. E o quê esse cara fez? Ele importou todo o modus operandi da máfia que se instalou no mercado do forró (e que já foi denunciada aqui no Cabaret no Wikileaks do Forró) para o mercado sertanejo.

Basicamente esta máfia está acentada em um tripé:

- Discos Promocionais Invendáveis, que justamente por não serem comercializados, driblam a incômoda (para os empresários) questão dos direitos autorais.

- Venda de shows para grandes eventos com escalação casada, ou seja, o empresário usa um nome de grande peso que ele possui em seu escritório, para garantir que outros artistas de sua empresa possam aparecer e tornarem-se conhecidos. Com ampla distribuição de CDs promocionais nesses eventos, naturalmente.

- Lançamentos de singles de musicas estouradas na Internet, na própria Internet. Essa prática foi criada este ano, por conta das demandas criadas pelo caso "Minha mulher não deixa não".

Lógico que um esquema desses é extremamente pernicioso, pois privilegia os detentores da maior quantidade de capital de giro (aumentando ainda mais essa quantidade) e também a busca por sucessos fáceis e rápidos. O forró já vem sofrendo as consequências dessa máfia a uns quatro anos, o sertanejo a conheceu em 2011. Isso explica a quantidade recorde de regravações toscas este ano.

O que a equipe de Michel Teló fez foi pegar esse esquela e injetar milhões e mais milhões de reais em mídia em cima dele, através de uma música que a mais de seis meses já fazia sucesso no nordeste. Não tinha como dar errado, posto a quantidade de dinheiro que Teló tem na carteira. Desde seu lançamento em agosto, até seu estouro mundial em dezembro, foram caminhões e mais caminhões de dinheiro investidos.

Isso também explica parcialmente o porquê dos novos sucessos surgidos no forró não conseguirem emplacar. "Ai se eu te pego" voltou para o nordeste na forma de uma terrível ressaca. Os parâmetros de sucesso ficaram confusos e megalômanos. Um sentimento de urgência tão grande se instalou na busca do próximo hit, que acabou gerando atitudes capazes de constranger cercas de arame farpado, como a criação de músicas cujo tema foi um dos Top Trends mais sem noção do Twitter em toda sua história: "Luiza está no canadá".

Nós já fomos mais inteligentes e mais criativos. Mas este blog é otimista quanto ao futuro da música brasileira e acredita que denunciando todas essas mazelas, estará cumprindo seu papel histórico. Aguarde em breve, mais matérias sobre esse assunto inesgotável. A única coisa que esse mercado predatório criou de realmente novo, foi o verbo mafiar, ou seja, sabotar artistas, músicas, carreiras e shows. Tem uma música do Metallica que ilustra bem isso: Sad But True.

19 comentários:

Tenho que concordar com o texto, e acho que isso vem de uma equivalencia que cada dia mais vem aparecendo, a mistura de estilos dentro do cenário nacional, e isso eu acho até certo ponto bacana, misturar pagode, sertanejo, forró, salsa, a porra que for. Acontece que as coisas estão sendo cada dia mais banalizadas, letras fortes estão sendo deixadas de lado para criarmos uma especie de "hit mamona do ano" se é que me entendem, musicas tosquinhas faceis, engraçadinhas....

Sei que esse mercado sempre existiu e sempre existirá, porém cabe a cada um ouvir o que é de bom grado....

Abraços...

Leonardo (Bill Moura e Leonardo)

cara isso e maravilhoso, finalmente alguém fala sobre isso, pensava que eu estava ficando louco, como ninguém ve isso acontecendo. ainda bem ahei mais um louco

Mais uma vez Timpim voce foi fundo e disse tudo. Falou o que muitos de nós fãs sertanejos queremos falar, mas somos tachados de ignorantes e desatentos,desatualizados e coisa e tal. Eu sou fã de música sertaneja, mas infelizmente,tenho me deparado com umas coisas que me deixam decepcionadas. Ouvir duplas sertanejas cantando músicas que são forrós uma vez ou outra que eles regravarem tudo bem, inclui-se no CD, mas isso tá virando realmente merchand demais da conta. Eu mesmo sou testemunha disso. Acompanho o sucesso de algumas duplas sertanejas e vejo que eles lançam músicas atrás de regravações de forrós que fizeram sucesso , e esquecem de pensar que aquela música regravada, já estamos cansados de ouvir em outro ritmo e que precisamos de coisas novas para nossos ouvidos. Fico triste também ao ver que duplas de sucesso estão fazendo isso.Tá bom que devemos dar chance para a globalização. kkkkkkkk mas já é exagero alguem se pendurar no sucesso antigo pra reviver e encher os bolsos. Falta criatividade e oportunidade. Talvez os produtores tenham medo de arriscar num trabalho que vão perder grana, por isso querem apostar no que está acentado, ou seja, está garantido tipo "foi sucesso com eles, vai ser sucesso com a gente tambem" e não é por ai. Os artistas dizem que pensam no público mas estão pensando mais neles próprios .Pronto Falei

Monstro! Tú é monstro!
Valeu pelas verdades, sempre.

Antes, as bandas de forró procuravam pela melhor música. Hoje, a busca implacável é pelo próximo hit.

Concordo em grande parte com o que escreveu em seu texto, mas discordo em alguns pontos, especialmente no que diz respeito ao "modus operandi" onde vc cita o Marquinhos. Essa forma de trabalho onde ele distribui cds invendáveis favoreceu que o público conhecesse os artistas do seu escritório, sem depender apenas das rádios e divulgação das gravadoras, onde muitos artistas ficam "presos" a apenas músicas de trabalho e acabam ficando conhecidos como artistas de uma música só. Ele tem condições de fazer este tipo de trabalho, e foi assim que as duplas da nova safra do sertanejo conseguiram emplacar em outras regiões, saindo do eixo sul e sudeste. E garanto que muitos artistas cobram dos seus representantes em cada região que façam um trabalho diferenciado,como foi feito com a nova safra. Ele atinge desta maneira o seu público alvo.
Lembrando que as músicas que estão nos cds distribuídos pelos sertanejos, são editadas e os compositores receberam pelo direito de gravá-las e serem distribuídas desta forma também. Diferente do forró que muitas vezes gravam sem ter direito algum sobre as mesmas.
Com relação as regravações, concordo plenamente com você.Mas aí a culpa não é apenas dos empresários mas também do público que não seleciona o que quer ouvir. Se vira hit é porque o público fez isso acontecer. Sendo boa ou ruim, o público ouve o que quer, cabe a nós, como público, sabermos selecionar.

Ana Paula, e como vc explica o caso da música "Motel Disfarçado", gravada pela dupla Humberto & Ronaldo?

Sobre esta questão da música "Motel Disfarçado" não sei o que vc quer que eu explique. A opinião que emiti foi sobre o que sei, porque gosto de falar sobre as coisas que tenho propriedade.E uma coisa que sei sobre a música em questão, é que a autoria que atribuem a ela, não é verdadeira, pois a pessoa que "lançou" o vídeo no youtube se diz o compositor da mesma o que não é verdade, pois o verdadeiro compositor é outro. Mas eu não estou aqui para explicar, apenas emiti minha opinião a respeito de um texto muito bem escrito, que alguns podem concordar com tudo o que está escrito, mas outros, como eu, podem discordar de alguns pontos.

Observe que importaram até a retórica da mafia do forró. O argumento pra desqualificar a acusação de apropriação indevida de música alheia é desqualificar o compositor, se possível a pessoa do compositor. A história específica dessa música conheço bem e tenho propriedade pra falar. Bruninho do Acordeon, que postou o video é um dos compositores da música, os dois são parceiros. Ana Paula, você admitiu que meu texto está certo, houve apropriação indevida.

Meu querido Timotéo, eu admiti que concordo com PARTES do seu texto,mas não com ele na íntegra. Quando concordei sobre as REGRAVAÇÕES, quis dizer sobre a qualidade das mesmas, e não sobre apropriação indevida, até pq coloquei bem claro sobre o pagamento dos direitos por parte dos sertanejos, mas concordo com a apropriação indevida por parte de algumas bandas de Forró. Acho que escreves muito bem, que tem propriedade e admiro quem fala assim, sem se basear em fofocas, algo muito comum em vários blogs que vemos por aqui. Não quero criar nenhuma celeuma com a música "Motel Disfarçado".Por isso não vou estender o assunto sobre a mesma. Mas com propriedade digo que o Bruninho estava levando as "glórias" de único compositor até o parceiro entrar em contato com as bandas reinvidicando o seu direito e nem era o direito financeiro, era o direito de ter o seu nome divulgado como compositor. Mas isso é uma discussão que não pertence a mim.

KKKKKKKkkk...pronto, cansei...kkkkkkk...o debate acabou

Poxa Ana Paula, logo agora que a conversa estava começando a ficar boa. Você deveria acrescentar que por todo esse "trabalho" que o Marquinhos Audiomix faz ele cobra, e cobra CARO, na faixa de dois milhões pra cima. E cobra adiantado.

Claro que cobra, e tb gasta rsrs, afinal vivemos em um mundo capitalista, ou você trabalha de graça? Todos cobram um valor e paga quem pode. Mas agora encerro aqui a minha participação neste debate. Foi muito bom ter esta oportunidade. Abraços pra vc!

muito bem, isso vem acontecendo a algum tempo com as bandas de forró vi uma entrevista do felipão na epoca foró moral ele foi pedir para avioes não tocar a musica dele, o xandy respondeu que ia continuar tocando e o povo eswcuta com quem quiser, mas você distribuir trezentos mil cds, é claro e o povo vai escutar com você ! concorrencia desleal. jogo sujo sem falar nos boicotes quando felipõ estava contratado para um show , a a3 ofereceu solteiroes de graça só pra tirarem felipão da festa.. bj na boca a .

O pior de tudo e ver michel teló em entrevista e dizer que escutou a musica numa cidadezinha do interior e viu que podia mexer na musica mudar uns arranjos e fazer sucesso ! tá bom magico a musica já era sucesso no nordeste a uns 6 meses era só gravar pulverizar cd por ai e fazer sucesso ! agora no proximo cd é só gravar escravo do amor, meu amanhecer, carro pamcadao, to solteiro e dizer que descobriu as musicas..

Cristtov Forró Selvagem

eu ja fui em vários shows de forrós e ganhei vários cds de graça, kkkk e em contra partida fui em alguns shows sertanejos que eles chama pra cantar com eles no palco alguns cantores e depois distribuem o cd de divulgação.. kkkkkkkkkkkkkkk é isso que vc tá falando timpim? kkkkk . e quanto as musicas de forró virar sertanejo já deu o prato cheio né? tenho cds com váris musicas q estão tocando hj no rádio como sertanejo que é forró. tipo jorge e mateus com essa da novela ai por exemplo foi forró em 2008. kkk bjk no nariz timpim

excelente texto Timpim Ahazou... porque as pessoas acham que tem que enfiar guela abaixo dos fãs algumas coisas que não gostamos? eu sinceramente não gosto de forró. e gosto de sertanejo. mas essas coisas que acontecem de venderem pacotes agora de shows ta por fora. e sem falar dos direitos das musicas mesmo, pois muitos cantam como se fossem sucessos deles proprios. lamentável.

Cara essa máfia tá Cretina ao extremo. Lançar duplas ou cantores de sertanejo só pra cantar (o seu mais novo sucesso do momento).E pra gente aqui do nordeste já é velhaaa!!!

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