O Rock Nacional Morreu e teve show Sertanejo no Enterro
O sertanejo substituiu o rock como a música consumida pela juventude brasileira. Se esta frase fosse escrita no começo dos anos 90, seria considerada ficção escatológica, mas na atualidade é a mais Pura Realidade.
Exaltasamba Anuncia Pausa na Carreira
Depois de 25 Anos de uma Carreira Brilhante e de Muito Sucesso, o Grupo Exaltasamba anuncia que vai dar uma 'Pausa' na Carreira.
Discoteca Básica - Aviões do Forró Volume 3
O Tempo nunca fez eu te esquecer. A primeira frase da primeira música do Volume 3 do Aviões doForró sintetiza a obra com perfeição: um disco Inesquecível.
Por um Help à Música Sertaneja
Depois de dois anos, João Bosco e Vinicius, de novo conduzidos por Dudu Borges, surgem com mais um trabalho. Só que ao invés de empolgar, como foi o caso de Terremoto, o disco soa indiferente.
Mais uma História Absurda Envolvendo a A3 Entretenimentos
Tudo começou na sexta-feira, quando Flaviane Torres começou uma campanha no Twitter para uma Espécie de flash mob virtual em que os Fãs do Muído deveriam replicar a Tag #ClipSeEuFosseUmGaroto...
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
João Carreiro & Capataz - Clipe "O que essa moça fez aqui"
terça-feira, 29 de novembro de 2011
Cally Mell - A Dançarina que caiu do céu
Depois de vários contatos mijarem pra trás, acabei recorrendo ao meu amigo Dênis, da BYA Eventos. Camarada que é, me conseguiu um hotel no centro de São Paulo e me comunicou que uma banda de arrocha nova estava fazendo uma temporada de shows na capital paulista e perguntou se eu não estava afim de cobrir. Pergunta besta, lógico que queria.
Foi assim que conheci o pessoal da Bonde dos Playboys e o moleque do Bonde do Serrote do post anterior. Mas não só. Depois de uma sesta revigorante, desci para a recepção e ao sair do hotel dei de cara com o ônibus da Banda Djavú. Eles estavam hospedados no mesmo hotel!
Os frequentadores veteranos deste Cabaret sabem que a dois anos atrás eu derrubei o cesebre deles através do Watergate do Tecnobrega. Inclusive troquei insultos com o cantor Geandson Rios via telefone. Mas como não devo nada a ninguém e não tenho medo de corno nenhum, acabei abordando o cantor e me apresentando. No final acabamos ficando amigos de cagar de porta aberta e até uma consultoria de uso do facebook dei pro cara, enquanto estávamos sentados em uma poltorna na recepção, já que a wireless tabaca do hotel só pegava no térreo.
Justamente por esse motivo, acabei desapropriando a mesinha das térmicas de café, locando um tamborete preto de plástico e montando uma filial do escritório do Cabaret na recepção. Muito mais divertido do que ficar solitário num quarto de ventilador de teto. Em poucos minutos já estava entrosado com os meninos da banda e com a recepcionista estressada Ivonete, a mulher que pega ar facinho com minhas traquinagens. Só que vou pular alguns eventos cronológicos para chegar ao ponto que quero abordar neste post. Uma pessoa muito especial que conheci e que me devolveu um pouco da fé na humanidade que tinha perdido neste 2011 que tanto me fudeu.
Foi na manhã de segunda-feira. O show do Bonde dos Playboys havia acabado mais cedo na noite anterior e por razões inescrutáveis acordei oito da manhã bem disposto e sem ressaca. Liguei o notebook na filial do Cabaret na recepção e começei a conferir o que havia rolado nas redes sociais. As dançarinas da Banda Djavu desfilavam seus traseiros esculturais para lá e para cá, ignorando por completo a minha presença no ambiente. Resolvi então chamar a atenção ligando minha caixinha de som e dando um play na "Puta que o pariu" do Trio da Huanna. Foi batata, na hora uma moreninha que estava sentanda na poltrona ao lado conversando com um carinha com fardamento de motorista de ônibus se manifestou.
- Ei! Isso é Trio da Huanna, fui num show deles em Salvador na sexta passada!
- Massa, né?
- Demais! Você passa essa música pra memória de meu celular?
- Só se for agora!
Quinze minutos depois já estava entupindo o pen drive do motorista (era um primo dela, não se viam a um tempão e que estava dando um nó no trampo para ver a parente adorada) com meu repertório de arrochas, funks, bregas, forrós, sertanejos, etc e vinte e cinco minutos depois ela já tinha buscado seu notebook branco do quarto e estávamos nos adicionando, seguindo e o caralho de asas em todas as redes sociais possíveis e imagináveis. Foi empatia à primeira vista.
- Eita mulher, tú é muito mais bonita nas fotos do que ao vivo!
- É que estou toda amassada porque cheguei do show e nem dormi. Depois eu subo no quarto pra me arrumar pra fazer umas compras na 25 de março e tu vai ver que dou pra um caldo
- Humm, duvido muito, mas...
- Ei, tô vendo aqui seu Twitter, você conhece a Aila Menezes?
- Sim, eu era fã da Groove de Saia que ela tinha antes.
- Pois é, agora ela tá cantando na Raghatoni
- Tá, agora pára de falar merda e sobe pra tentar consertar essa tua cútis malacabada...
E lá foi ela se arrumar enquando eu me gabava com os meninos do Bonde dos Playboys acerca de minha bem sucedida abordagem de uma das dançarinas da Djavu, enquanto eles permenaciam só olhando, como cara de vira-latas pidões. E foi mostrando as fotos do perfil do Twitter dela para os moleques, que recebi uma cutucada no ombro. Era ela.
- Fuçando no meu Twitter, hein?!
- Putz!!
E lá foi o Timpas assustado clicando em tudo que era X em tudo que era janela que tivesse na tela. No cagaço fechei até o MSN que não tinha nada a ver. E meu irmão... Realmente ela dava um caldo. E que caldo! Praticamente uma BR-101, ou seja, um autêntico pedaço de mal caminho. Infelizmente não me convidou para ir as comprar com ela. Na verdade recusou minha escalação para o passeio e desapareceu de minha vista com seu par de coxas esculturais e seu porta-malas indescritível. Levei algum tempo para recuperar o fôlego, enquanto os meninos do Bonde choravam de rir da minha cara de assustado.
Estava decidido, naquela noite eu jogaria um abacaxi no colo da equipe do Bonde dos Playboys e acompanharia a Banda Djavú, por mais horripilante que essa possibilidade pudesse soar em minha mente. A banda só sairia do hotel às 23:00 e durante o resto do dia bebi com parcimônia extrema e conversando com - ainda não falei o nome dela, né? - Cally Mell por MSN e Facebook.
Chegado o momento do climax, a partida do ônibus da Banda Djavú para o show, lá estavam elas, as dançarinas da djavú, todas vestindo um breguíssimo casaco vermelho, parecendo um bando de Chapeuzinhos Vermelhos esnobadas pelo Lobo Mau e com as pernas de fora. Colei em Cally e aí sim, começei a beber de verdade, inclusive fornecendo uns goles escondidos para a pequena notável.
Ao entrar no ônibus ela me comunicou que eu teria que ficar com os roadies no fundão, enquanto as dançarinas ficariam num reservadinho na parte da frente. O ônibus da Djavú é todo compartimentado, pra falar com o motorista, por exemplo, tem que fazer uso de um telefone localizado na escadinha em caracol que dá acesso ao banheiro. Só que um dos seguranças, ao me intimar pra entrar, falou bem assim:
- Timpin, entra e te instala onde você quiser!
Preciso falar que subi aos pulinhos de pereca epilética e que me instalei ao lado de Cally Mell? Quando ela me viu exclamou, entre surpresa e divertida:
- Tú é abusado né Timpin? Puta que o pariu!
- É nóiz, fique gelo...
O trajeto entre o hotel e a casa de show parecia mais interminável que a Ferrovia Russa Transiberiana e eu não achei isso nem um pouco ruim. Deu tempo pra gente filosofar, fazer piadinhas sobre as outras dançarinas tongas, praticar psicanálise de boteco e fazermos um apanhado geral de nossas biografias e constatar que éramos praticamente duas almas gêmes. A tampa & a marmita. Foi tesão pra caralho.
Eu que já estava achando que nunca mais encontraria uma pessoas fudidamente legal, mas uma vez fui surpreendido pelo destino.
Depois de um tempão que não me preocupei em cronometrar, chegamos na porra de casa de show e então veio a supresa. Estava rolando uma puta de uma blitz, envolvendo polícia civil, policia militar, exército, guarda municipal e se bobear até a milícia particular de Gilberto Kassab. Absolutamente todo mundo da balada estava sendo revistado, desde o vendedor da barraquinha de pamonha e tapioca até o gerente do estabelecimento e a equipe da banda que estava tocando antes. A turba teve que ser organizada em filas gigantescas e classificada em gêneros. As mulhes se puseram com as mãos na parede de costas pra rua em um quarteirão, enquanto os homens foram alocados em outros dois, mais pra esquerda.
Estava na cara que não rolaria mais show e agente estava achando aqui insanamente engraçado, já que na véspera ela tinha pedido demissão e aquele seria sua última apresentação com a banda. A tribulação do ônibus não estava entendendo porra nenhuma do que estava acontecendo. Lógico que eu não pude contar a piada pronta:
- Eu sei o que tá rolando. Todo mundo está intimado e enquadrado por porte de drogas, por causa do ingresso do show da Djavú no bolso.
- Cala a boca Timpin! Tá maluco?! Tá cheio de gente da banda aqui, quer apanhar?
Show cancelado, lá vai os mané de volta pro hotel, com uma breve pausa em um posto de gasolina, onde matei a fissura de cigarro e entornei mais uma latinhas inspiradoras. Passamos o resto da noite coladinhos, Cally Mell e eu, no balcão da recepção do hotel enquanto o sono não vinha, vendo fotos e videos do Orkut dela - ela também faz uns bicos em umas bandas de Swingueira de Salvador (não é uma mulher perfeita?) e luta Jiu-Jitsu (é, não é uma mulher perfeita...)
Fomos dormir quando o dia estava amanhecendo, sob juras e promessas de que nossos caminhos um dia ainda se cruzarão de novo, já que ela iria embora logo que o sol despontasse. Como ela teria ainda precisava arrumar as malas e era expressamente proibido homens entrarem no quarto das dançarinas, tive que me recolher aos meus aposentos.
Dormi mais feliz que minhocão em esterco vaca.
segunda-feira, 28 de novembro de 2011
Ermínio Félix & o Bonde do Serrote
domingo, 27 de novembro de 2011
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
Forró dos Plays - Puta que o Pariu
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
Trio da Huanna - Puta que o pariu, o Cabaret deu antes!
A Balada de Marcus Blognejo
domingo, 20 de novembro de 2011
Gang do Eletro no Se Rasgum (primeiro comentário)
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
Edcity - PamPam RamRam PamPam (clipe oficial)
Gang do Eletro - Singlegrafia Completa de 2011
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
Acharam a Ponta do Durex do Muído
Tá repleto, abarrotado de músicas falando de amor, de paixão. Simone tomou a frente da maioria dessas músicas e, junto com o amigo Binha, me fez relembrar aquele 2009 tão querido. Só tem a do “Piu-Piu” pra fazer uma graça, que é desnecessária e nem ela tirou minha alegria ao escrever esse post. Tem também aquelas de diversão, de beber, mas com o toque do Muído, fazendo o diferencial entre as outras bandas. Tem um ou dois pagodinhos de bom gosto e escolha, que Simaria não deixa faltar. Olhe, eu posso dizer com todo orgulho do mundo: o nosso verdadeiro Muído voltou! Com ele, voltou também a vontade de ir a show, de encontrar os amigos e se divertir até quando a gente cansar de ser ruim.
E aos fãs que desejaram comer meu fígado, eu digo: SENTA E CHORA. Sei que a mudança não foi por minha causa, que o CD estava pronto antes, mas entenda que eu e muitos outros fãs estávamos certos. Esse é o Muído que muitos sentiam saudade. Respeito aqueles que discordaram educadamente, apresentaram argumentos, mesmo eu não concordando, mas foram a minoria. A essa esmagadora maioria que desceu o cacete em mim, que é fã de Muído-Aviões-LuanSantana-Restart-ColírioCapricho ao mesmo tempo, que falou horrores sem nem entender o que escrevi é que eu me dirijo: chupa essa manga! Ah, reza a lenda por aí que Simone tá comprando calças (hahahahaha).
terça-feira, 15 de novembro de 2011
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
Joelma Ensina, Você Anota
Demorei, mas voltei. Depois de tanto tempo após a última matéria sobre Calypso (Joelma x Lady Gaga), escrevo novamente tirando o chapéu pra essa banda e, especificamente nessa matéria, pra Joelma, A Mulher do Dinheiro. Algo que é nato dela e de Chimbinha e que sustenta esse sucesso até hoje é o poder de renovação, querer trazer algo diferente pro público. Isso pode ser observado bem facilzinho no ballet da banda.
Como é um ritmo dançante, um show bem enérgico, é necessário ter um corpo de baile no palco junto com a loira, pra encorpar visualmente e casar com a música. É um diferencial, inclusive abordei essa questão na matéria anterior. Até pouco tempo atrás, Joelma formava seu ballet (ela é quem manda e desmanda nesse assunto dentro da banda!) com dois casais de dançarinos, no máximo três. Era bonito e “clássico”. Só que vi um vídeo no twitter do meu amigo Jack Vieira que me deixou admirada: o ballet tá muito, muito massa! Mudou daquele formato mais antigo e agora tem quatro gatos da galáxia e duas mulheres, alterando as coreografias, renovando o show junto com os novos arranjos nas músicas antigas.
Fazer sucesso é difícil, só que mais difícil ainda é fazer sucesso de sua reinvenção. Algo que notoriamente Joelma vem conseguindo nos shows, como assisti esse ano no São João de Campina Grande. Ela parece mais empolgada, dançando mais e com mais criatividade pra novas coreografias. Um orgulho só.
Toda essa sede de renovação é fruto de muito amor ao trabalho. Serve de lição pra muitos por aí que chegaram ao auge e pensam já em parar de cantar, de tocar, sair da banda. Joelma tem uns 15 anos de carreira, é rica, tem empresa e não toca nem no assunto de se aposentar. Pelo contrário, cada show ela se entrega como se fosse o primeiro. É, meu filho, talento, muitos tem; luz, força de vontade, poder de renovação e valor às conquistas... são poucos.
quarta-feira, 9 de novembro de 2011
Somos todos bregas
Somos todos Bregas
Discos sempre foram para mim fontes de descoberta. Talvez o hábito de ouvi-los tenha ficadp fora de moda por causa da internet e da pirataria, mas nada se compara em nitidez sonora a um CD feito com plástico, alumínio e bits sonoros. Pois ontem escutei dois discos de duas cantoras representantes de faixas de público aparentemente diversas que me ajudaram a refletir sobre a atual situação da música popular brasileira: O que você quer saber de verdade (EMI), da cult MPB carioca Marisa Monte, e Ao Vivo(Universal), da mineira e sertaneja Paula Fernandes.
Há dez anos, para não ir muito longe, minha experiência sonora seria considerada abstrusa, pois obviamente duas artistas de registros tão diferentes iriam apenas mostrar a multiplicidade da música brasileira – e reafirmariam minhas convicções em relação àquilo que é refinamento e singeleza. Marisa, representante da alta cultura; Paula, das camadas populares. Mas minha experiência não se deu assim. Antes pelo contrário: o que eu ouvi nos dois discos são cantoras quase idênticas, entoando baladas românticas muito simples, acompanhadas por instrumentos acústicos, repletas de uma versalhada tida antes por piegas, tresmolhados de bons sentimentos e mensagens de amor nada discretas. Ambas seriam chamadas de bregas no Brasil Velho. Nos anos 60 e 70, a música romântica influenciada pelo bolero, a modinha e a toada caipira era considerada um produto barato, para uso do povão. Nos 80, bandas da vanguarda paulistana e cantores como Eduardo Dussek exploraram a verve paródica, meio que esnobando o brega, mas lucrando com o gênero. Depois da apreensão ingênua e da paródica, as pessoas assumiram o gênero com pungente fé. Hoje o brega é a convicção de um povo. Ele se consagrou. Marisa e Paula, duas grandes artistas vocais brasileiras, assumem com serenidade o novo bom gosto. Uma prova de que o brega se converteu em cult –e vice-versa.
O cult está brega. Isso quer dizer que o cidadão brasileiro cool e descolado se vale de todo tipo de referências para compor a sua roupa, seu modo de agir e seu imaginário. Esse novo comportamento reflete a mudança demográfica do país, com a ascensão das classes C e D. Essas camadas se tornaram importantes e terminam por impor seu gosto, seus hábitos e costumes ao restante da sociedade de consumo. A gente vê isso na novela Fina Estampa, da TV Globo, de Aguinaldo Silva. Ela relata a ascensão social da pobretona Griselda (Lília Cabral), que de quebra-galho se torna empresária. A novela não maquia a luta de classes, e mostra o conflito entre a emergente Griselda e a socialite Maria Teresa (Cristiane Torloni). Baseado em pesquisas, o autor faz um retrato realista de como a mulher brasileira se tornou chefe de família, está galgando posições – e, no universo da cultura, obriga a turma do narizinho empinado a prestar atenção no que ela gosta, no que ela sente, pensa e consome. Esse “ovo Brasil” é uma realidade insofismável. É preciso considerá-la e respeitá-la. Os novos-ricos e os novos-classe-média vieram para ficar e se mostrar, para horror das marias-teresas da vida.
Além da novela, o cinema brasileiro tem explorado, de uns cinco aos para cá, o universo da nova classe média: são favelas que enriquecem com o tráfico e o tráfico que domina os “bem-nascidos”(Tropa de Elite 1 e 2, Meu nome não é Johhny), mulheres que lutam para sobreviver sem preconceito (O céu de Suely,Bruna Surfistinha, De pernas para o ar), formas de arte em extinção que insistem em se manter vivas (O palhaço, Suprema Felicidade), personagens que questionam a identidade e os tabus sexuais (Se eu fosse você 1 e 2). É um novo mundo que se descortina, e talvez não se coadune com aquela ilha da fantasia sonhada pelos estetas, que hoje só sabem admirar o cinema classe-média-bonitinha da Argentina. Infelizmente (eu diria felizmente), o Brasil não é a Argentina. O Brasil se mostra muito mais rico e variado em termos demográficos e, por isso, culturais. Se é cultura “inferior” nos padrões europeus, paciência.
Os gostos, os hábitos, os amores e os ventos mudam, já dizia o poeta seiscentista Luís de Camões. Até a novidade sofre tantas e tamanhas metamorfoses em sua estrutura que chega o dia em que as coisas mais antigas, descartáveis e antes desprezíveis viram artigo de luxo. Experimentamos hoje o choque do velho, em contraposição ao que preconizavam as vanguardas artísticas até os anos 1920. No terreno da música cultura de massa, o processo se acelera ainda mais. Não apenas velhos paradigmas voltam à tona – trata-se de uma forma de reciclagem rápida dos produtos culturais – como também os usos e costumes de classes sociais antes antagônicas começam a interagir e a se fundir de forma irreversível, alterando o que se pensa sobre o mundo e como se consome arte, entre outras coisas.
Mas voltemos à música, que sempre foi a antena das tendências por aqui, e, apesar de viver momentos não muito brilhantes, continua a ser uma arena de mudanças. O que tem acontecido na música brasileira é uma quebra de paradigma. Caiu a hegemonia do eixo Rio-São Paulo. A música axé da Bahia tomou conta do país inteiro, e gerou estrelas como Ivete Sangalo, Claudia Leitte e Carlinhos Brown. O interior invadiu as capitais, e surgiu o forró universitário e, mais recentemente, o sertanejo universitário. O funk se fundiu com o samba e a MPB. E vieram para baixo os sons amazônicos. ÉPOCA publicou recentemente uma reportagem intitulada “E o brega virou cult”, de Mariana Shirai, sobre o gênero tecnobrega paraense e sua influência no movimento Avalanche Tropical, que congrega bandas e DJs bregas do país inteiro. Dessa enxurrada fazem parte a cantora Gaby Amarantos, Garotas Suecas e a Banda Uó.
O que as vertentes do pós-bom gosto ensinam? Em primeiro lugar, que é inútil ter preconceitos musicais, porque ela é invasiva mesmo, capaz que é de se apossar de sua alma. Em segundo, que aquilo que é considerado de mau-gosto na verdade ajuda a enriquecer a imaginação. Em terceiro, que nada é fixo no mundo, e nada mais dinâmico e pervasivo que o som. Quarto, torna-se urgente reavaliar nossas próprias crenças artísticas.
Por isso, finalmente o “populacho” e os “caipiras” invadiram os salões. Na nova geopolítica sonora do Brasil, podemos ouvir os ecos do brega na voz de Marisa Monte, e traços de erudição na de Paula Fernandes. Junte as duas e o resultado será parecido com Vanessa da Mata, uma acoplagem do sertanejo e do alto pop dançante. Junte a duas e você ouve a volta ainda não anunciada de Zezé di Camargo & Luciano. Você vai entender nas entrelinhas o tecnobrega, a axé. Junte-as em uma audição e você comporá o seu rosto. O Brasil joga na nossa cara quem e como somos de fato. Querendo ou não, se fazendo de culto ou nem tanto, você é brega, meu velho.
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
Chimbinha, o nosso Guitar Hero Brazuca
Encostado na parede, já meio baqueado por várias latas de cerveja e algumas caipirinhas, observo tudo de longe, buscando um certo distanciamento enquanto, no estúdio, roadies e técnicos acertam a luz e o som para a gravação do Estúdio Coca-Zero MTV – Calypso e Paralamas do Sucesso. A credencial de imprensa me dá acesso livre. Não que, nesse momento, isso signifique muita coisa, pois fico zanzando de um lado para o outro, meio sem ter o que fazer enquanto espero o show começar. Entrevista só se for na coletiva.
Se tivesse dado tudo certo, você teria lido essa matéria em outubro de 2008. Era para ser um perfil de uma página de Joelma e Chimbinha para a Rolling Stone. O que explica a minha credencial de imprensa pendurada no pescoço e o direito de fazer duas perguntas na coletiva. Mas estranhos são os caminhos do showbusiness brasileiro e a banda, sabe-se lá porque, não conseguiu fazer a foto encomendada pela revista, o que foi adiando a matéria indefinidamente.
Situação bem diferente de quando encontrei Chimbinha pela primeira vez em 1999 nos estúdios do Xodó, uma casa noturna na saída de Belém do Pará. Tinha me demitido do jornal onde trabalhava e andava num miserê desgraçado. Fui salvo pelo Pedro Só, que me pediu uma matéria de oito páginas sobre a cena brega pop paraense para a Showbizz, quando oito páginas em uma revista de circulação nacional era grana pra cacete. Naquela época, apesar de ainda andar de ônibus, Chimbinha era o session man mais requisitado da então emergente cena brega local. À noite ralava nas casas noturnas da periferia de Belém. De dia, gravava até três discos de uma vez só. No currículo, a fama de ser o melhor guitarrista da cidade e de, com menos de 30 anos, ter mais de mil álbuns com a sua assinatura.
Não é exagero. Eu vi. O homem era uma máquina de gravar. No tempo em que passei com ele, matou dois discos em uma manhã. Funcionava assim: Chimbinha se plantava o dia inteiro no estúdio com seus músicos, já conhecidos como Banda Calypso. O sujeito chegava com as letras e as cifras das músicas debaixo do braço. Chimbinha dava uma olhada, passava as notas para os camaradas e começava a gravar.
Primeiro fazia uma levada simples, que geralmente valia logo no primeiro take. Depois incorporava mais três levadas de guitarra: uma meio aparentada do ska, uma com a mão direita abafando as cordas e um dedilhado limpo que lembrava a surf music, segundo o próprio guitarrista resultado das influências de Mark Knopfler e Mestre Vieira, inventor do estilo amazônico-caribenho conhecido como guitarrada.
Bingo. Estava pronto mais um sucesso do brega pop paraense.
Assim Chimbinha e Joelma foram levando a vida. Gravando discos de dia e se apresentando nas casas noturnas à noite. Ainda nos encontramos uma última vez no ultra-calorento camarim da Pororoka, um galpão reformado na periferia de Belém que, na época, junto com o Xodó, era uma espécie de Factory do brega-pop.
Se você tinha uma banda, queria fazer parte de uma cena e se dar bem como astro brega, lá era o lugar para estar. Se caísse no gosto da rapaziada, tava feito. Como é comum em Belém do Pará, naquela noite a casa tinha escalado cinco bandas. Uma atrás da outra, com a Calypso ensanduichada no meio. No camarim de oito metros quadrados, músicos e dançarinas trocando de roupa meio atrapalhados, esbarrando uns nos outros, as paredes de azulejo encardido molhadas de tanto suor e umidade.
Mal consegui trocar duas palavras com a banda e sai fora antes da Calypso tocar a terceira música. Quase dez anos depois, reencontro Chimbinha em outro camarim. Dessa vez mais luxuoso, com ar-condicionado, espelho de corpo inteiro, banheiro privativo, mesa de frios e outras mordomias.
São quase dez anos. Nesse tempo o Xodó foi demolido e em seu lugar construíram um Habib’s. E a cena brega-pop foi passada para trás no processo de seleção natural da música pelo desbunde digital gangsta do tecnobrega. Bem fez Chimbinha, que, junto com Joelma, se mandou para o nordeste logo que o negócio em Belém começou a fazer água para dar início aos seus planos de dominação mundial.
“Pô, tu não é aquele cara da revista Showbizz que me entrevistou lá em Belém?”, pergunta Chimbinha no início da “coletiva”, que na verdade acabou se resumindo a mim e a mais dois repórteres.
“O próprio”
“Me lembro de ti. Mas porra, tu não tinha essas tatuagens todas não”, continua ele rindo.
Aproveito a disposição do rapaz em quebrar o gelo e pergunto logo se a parceria com duas mega-corporações – e logo depois de um acústico para a Som Livre – não complica a vida da Calypso como a maior banda independente do Brasil.
Chimbinha nem se abala. Dá um sorriso de Gato de Alice e desenrola aquela fala mansa de caboclo ribeirinho.
“Olha, cara, Coca Zero, disco pra Som Livre…É legal de fazer? É. Principalmente esse aqui com os Paralamas, uma banda da qual sou fã. Mas são parcerias nossas com essas empresas. Os donos das músicas, da banda Calypso, ainda somos eu e Joelma. Depois que a gente fizer isso aqui, vamos voltar para o nosso esquema de gravação e distribuição, que é totalmente independente”.
“Então nada de gravadora?”
“GRAVADORA? Pra que? Olha só: porque eu iria pagar para uma empresa distribuir e vender as minhas músicas se, hoje em dia, eu mesmo posso fazer isso? Gravadora não serve pra nada. Só para tirar dinheiro da
gente. Não me faz falta de jeito nenhum”.
“E a pirataria?”
“Aí já é diferente. A pirataria é péssima”, responde Chimbinha meio irritado.
“Mas ajuda as bandas da cena tecnobrega de Belém…”
“Ajuda e não ajuda, né?”
“Porque?”
“Porque o compositor acaba sendo prejudicado, porque a banda não ganha com as vendas de CDs e DVDs, porque a pirataria não paga direito autoral…”
“Por outro lado as bandas ganham com shows”
“Nem todas, né? E mesmo as que ganham…como fica o compositor? Eu pago todos os meus compositores. É tudo registrado, legalizado, recolhemos direito autoral…”, continua o guitarrista até ser interrompido por um produtor informando que a gravação já vai começar.
Eu ainda queria perguntar se a Calypso NUNCA havia se beneficiado com a pirataria e se teria chegando tão longe não fosse a milenar arte chinesa da reprodução não-autorizada. Lembro de um amigo ligado à área da música, carioca, que se informa sobre o que está rolando na música popular brasileira através do fornecedor de DVDs e CDs piratas do porteiro do seu prédio. E do meu pai que, morando em Porto Alegre, descobriu em um camelô que existia uma banda paraense de sucesso nacional.
OK, ele mesmo grava e prensa seus discos, licenciando a sua venda para distribuidores locais e regionais. Ou mesmo vendendo-os em seus shows a preços populares. Mas é difícil acreditar que a súbita popularidade da Calypso e a disseminação da sua música pelo Brasil aconteceriam sem o auxílio da economia informal. Chimbinha pode até detestar a pirataria, mas ela lhe adora.
E na proporção inversa à raiva que o guitarrista sente ao ver as verdinhas batendo asas cada vez que alguém compra um disco pirata seu, mais e mais CDs e DVDs da Banda Calypso entopem as bancas dos camelôs. Seja em São Paulo, Luzilândia ou Belém do Pará.
A gravação termina. No palco a química entre a Calypso e os Paralamas funcionou que foi uma beleza. O que a música da banda tinha de simplório foi melhorado por Herbert, Bi e Barone, que se apropriaram das canções da dupla para recriá-las a partir de elementos de reggae, ska e hard rock, deixando Chimbinha solto para tocar guitarra e, em troca, meter o bedelho nas composições do trio.
Ele se aproveita e usa a sua matriz criativa brega-pop para fechar as conexões afro-caribenhas abertas pelos Paralamas ainda nos anos 80, como se Al Anderson se juntasse a Mestre Vieira para queimar um fumo com Fela Kuti em uma jam session na casa de Pinduca.
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
Gaby Amarantos - Rubi
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
Luana Alves - Quem gosta de brega é ela!
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
Por um jornalismo mais crítico