quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Bonde do Maluco - Volume 7

No post anterior falei que Edcity é o segredo mais bem guardado de Salvador. Só que bem perto da capital soteropolitana, numa cidade pequena chamada Madre de Deus mora um cidadão chamado Anderson Luis Ventura Oliveira, natural de Candeia e que desde 2007 comanda a banda mais criativa, original, divertida e competente do arrocha: o Bonde do Maluco. Dan Ventura, como é conhecido o cantor, compositor, arranjador e milorde da fuleragem, é um segredo baiano tão bem guardado quando Edcity. Os dois são a vanguarda da música baiana, mestres no que fazem.


É certo que assim como Edcity andou cometendo uns vacilos no último semestre, o Bonde do Maluco vinha de um disco meio boca, o Volume 6, lançado no final do ano com a intenção de dar uma realçada nas musicas do Volume 5 para o carnava, o repertório era quase o mesmo nos dois discos. Agora em julho Dan Ventura se redime do passo em falso e surge com seu Volume 7, o melhor lançamento desde o clássico primeiro disco.

O processo de criação se repete desde os primórdios, Dan Ventura se enfurma no estúdio que fica no quintal da casa de sua mãe Dona Lucinha e enquanto Pit, uma fêmea de Pitbull mais mansa que pinto recém nascido faz a guarda com sua presença imponente, ele cria as melodias, as letras e os arranos. O processo todo costuma durar uma semana. O suficiente para que o rapaz saia de lá com uma coleção de canções que celebram a alegria, a fuleragem, a putaria e a bebedeira. É literalmente o caso deste Volume 7.

Já na abertura, um bispo anuncia: "Irmão, você quer se salvar? Então venha para o Bonde do Maluco" pra em seguida cantar a crônica de uma patricinha que se converteu a fé no Senhor e que não desce mais até o chão na frente dos paredões. Na segunda fala ele esnoba "Agora que virei o cabaré / agora você quer" para uma rapariga que o escurraçava quando estava na merda. "Não pare" é uma salada dançante que mistura arrocha, com música árabe, latina e dance music que só o Bonde tem o dom de servir sem causar intoxicação auricular em quem escuta. "Olha a cara dela" é sobre uma espécie imune aos riscos de extinção, as piriguetes.

Na quinta faixa uma prática que quase não se comenta, mas que o Bonde do Maluco costuma utilizar a anos, versões de musicas estrangeiras nada óbvias. Nos discos anteriores foram músicas do grupo português Irmãos Verdade, a saber a sensacional "Isabela" e "Keila". Desta vez foi a versão direta para o português do sucesso latino "Shorty, Shorty" do grupo Extreme, que virou "Choro, Choro". Já "Pare de chorar por ele" foi composta exclusivamente para ser cantada junto com Rafinha, da banda Asas Livres, uma instituição do arrocha que um dia ainda terá seu valor devidamente reconhecido pela crítica cultural que faz de conta que o arrocha não existe.

"Chicotada e tchau" é outro dueto, desta vez com o funkeito carioca MC Jota. Na saída de um show Dan escutou um carro tocando um CD da Furacão 2000, escutou essa música, bolou uma versão arrocha dela e, ao contrário da grande maioria dos artistas nordestinos, ao invés de tocar o foda-se e gravar a música no outro dia, ligou pro cantor original. O cara gostou tanto da idéia que foi pra Salvador e ficou dois dias por lá, participando do CD.

"Meu nome é Dan Ventura e meu sobrenome é fuleragem!" anuncia o moço de familia na conceitual "Sou o cara do paredão". O conceito é putaria. "De costa mainha" tem tudo explícito em seu título, dispensa maiores explicações. Com temáticas tão comuns e batidas, pode-se dizer que são o ponto fraco do disco. No entanto essa sensação é dissipada com as duas músicas seguintes, dois resgates de pérolas esquecidas.

"Como é doce o beijo" é um clássico dos anos 80, um funk melody da banda Copacabana Beach e "Disco do Raul" chegou a ser gravada pelo cantor de axé Tomatte, mas que na época não rolou. A fatura aqui deve ser enviada pra quem canta em lual, a música é perfeita para aquele momento em que Legião Urbana começa a ofender o saco escrotal. Depois de uma dobredinha dessas, é só partir pro abraço. No caso, partir pra pista de dança curtir uma pisadinha para a parte final da festa.

É o que fazem as músicas "Passo da sacanagem", "Bum bum" e "Desce com a mão no tchan", nesta música várias cidades que já viram os shows do Bonde são evocadas e listadas. O disco se encerra com um arrocha de raiz, por assim dizer, musica romantica para dançar coladinho, bem arrochadinho, bem swingadinho, daquele jeito que escandaliza o bom gosto da casa grande, mas que faz a alegria da senzala, "Morro de amor por ela".

Após quatro anos na estrada e sete discos no currículo, o Bonde do Maluco ainda pode ser considerado um grupo underground, já que pouquíssimas foram as aparições na grande mídia. Mas a banda vive na estrada e por onde quer que passe, conquista uma legião de fãs com seus show alegres e descontraídos. Os caras tem o dom de serem fuleiros sem serem vulgares. O sucesso que fazem entre as crianças é uma prova disso. Se lembrarmos que até Jesus já dizia pra prestarmos atenção nas crianças, então isso deve significar alguma coisa. É como disse o pastor do começo do disco: "Irmão, você quer se salvar? Então venha para o Bonde do Maluco!!".


4 comentários:

O que faz Bonde do Maluco ser o que ele é hj é o seu medo de não errar, é cantar o que é alegre , engraçado e extrovertido,....

ótima matéria !
Com certeza um das agradáveis revelações da música brasileira, têm muito talento!
AH
fica o trocadilho :"Seu nome é Timpin e meu sobrenome é fuleragem!'
kkkkkkkk

o bonde do maluco me faz muito feliz, com suas musicas dançantes e engraçadas.

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