sábado, 30 de julho de 2011

Observações sobre o Mercado Artístico Sertanejo

Prosseguindo com a sequência de postagens sobre a situação atual do mercado, da produção e do consumo de música sertaneja, postamos aqui um artigo de Dan Rocha, diretor artístico da Rádio Paranaíba FM, de Uberlândia, Minas Gerais, uma das maiores e mais influentes do país. Como se trata de um profissional da área, creio que suas palavras serão úteis tanto para artistas, quanto para empresários, produtores e o público em geral.
Mercado Artístico Sertanejo

Cada dia me impressiona a quantidade de cd´s de novas duplas sertanejas que aparecem na minha mesa, alguns inexplicavelmente inclusive. Como trabalho diretamente com esse mercado, a impressão que tenho é que a qualquer momento até meu dentista vai me deixar com a boca aberta na cadeira, formar uma dupla e sair cantando.

Claro que gente talentosa tem muito por aí e hoje a grande maioria dos materiais que chegam até minha mão são de qualidade, até pelo receio que o artista tem de enviar um material que ainda não está tão bom pra uma emissora grande. Mas o fato é que o mercado não tem na realidade “espaço” para conseguir emplacar tantos artistas novos. A internet e a facilitação para se gravar um cd , colaboraram muito para que sonhadores da fama pudessem literalmente “colocar a mão na massa” e ir em busca do tão famigerado sucesso.

É bonito, afinal todos tem direito de ter um pedaço do sol certo? Mas também é preocupante! Pois foi se o tempo que ter uma gravadora por trás do artista servia de alguma coisa, foi se o tempo que tocar no Faustão num domingo era garantia de explosão na segunda feira. Foi se o tempo que pra tocar em uma radio usava-se a clássica estratégia “dois filhos de Francisco” com amigos e família ligando na radio pra pedir a musica e isso gerar algum resultado.

Hoje além do talento, tem de ter um investidor “de peso” pois como eu disse, gravadoras já não fazem a diferença, os canais de divulgação evoluíram para internet e prensagem de cd´s para distribuição gratuita e acordos caros com emissoras de radio e tv. E pra isso é necessário rios de dinheiro, não só por que entrar no mercado é caro mas sim pelo tamanho desse mercado. O Brasil é muito grande com diversidades culturais muito variadas, enquanto em uma região o forró predomina, na outra é o pagode quem fala alto. E nessas, pro artista entrar expressivamente em um território abrangente, requer uma estratégia muito bem feita de mapeamento e investimento. Cada centavo gasto é um grande risco de ser pedido se não for investido com cautela e coerência.

Nessa vejo pais de família vendendo a casa, o carro e as vezes até o que não tem para apostar no sucesso do filho, da filha, do amigo, “Ah mais ele canta igual ao Jorge e Mateus então vai dar certo” ou o famoso “Essa dupla tem o estilo do Victor e Leo”, frases típicas do divulgador do produto que tem a falsa esperança de que está seguindo em um caminho que deu certo porem que já foi trilhado e muitas vezes o mato cresce de novo, aí meu amigo, você tem que fazer uma nova trilha e requer trabalho, investimento e sacrifício.

Observando o mercado a alguns anos, gostaria de deixar umas dicas pra quem está começando agora a trilhar esse tão pedregoso caminho das estrelas...

01 – Voce canta bem? Seus amigos te elogiam muito no Karaokê?

-Desculpe mas isso não é o suficiente para dizer que você tem o preparo para ser artista. Além de todas as dificuldades de mercado que citei acima, ser artista requer disciplina, objetividade, paciência, personalidade, carisma, brilho e diferencial.

02-Tenho 100 mil reais pra investir numa dupla que achei ótima, consigo fazer a carreira deles decolar com isso?

-No Maximo de um aeroporto pro outro... Quando falo em investimento pesado, é pesado mesmo! A media mínima que se gasta para que você consiga fazer caminhar um produto em duas ou três regiões é de meio milhão de reais por musica. Fique preparado para gastar um milhão se só você achar a dupla boa.

03-Mas eles cantam igualzinho o Victor e Leo, será que isso não ajuda?

-Nem um pouco, como eu disse ter diferencial é essencial. Victor e Leo, Jorge e Mateus, Zezé di Camargo e Luciano, e mais recentemente Luan Santana, cada um no seu estilo foram abraçados pelo Brasil. Copiar o estilo de alguém é seguir numa tendência que jamais irá pra lugar nenhum. Identidade própria é fundamental pra se desenvolver um trabalho firme.

04-Essa musica ta bem nessa linha universitária que todo mundo faz...

-Cuidado! Tudo que todo mundo faz, como eu disse , tem vida curta e poucos se destacam. Tenho observado uma enorme dificuldade de artistas conseguirem emplacar musicas com o tal “violãozinho acelerado”. É legal, é bacana, fazem sucesso com esse estilo...Mas achar o próprio estilo e inovar são regras básicas pra se atingir o sucesso.

05-Vou prensar 50 mil cd´s e distribuir....

-Até essa estratégia que já deu tão certo com alguns artistas está se defasando. Esparramar cd´s “na praça” não é garantia que as pessoas irão ouvir seu material. Distribua com estratégia e coerência. Chame a atenção das pessoas, faça com que elas procurem seu cd mesmo que seja pra ganha lo e não compra lo.
Distribuí los através de rádios e nos próprios shows do artista são sempre mais favoráveis que deixar na banca do pastel.

06-E se ainda sim eu não fizer sucesso?

-Como eu disse nada disso é garantia de que você vai atingir o sucesso... Então se nada disso der certo, volte pra cadeira de dentista e termine de atender o paciente.

3 comentários:

Muito bom texto, realmente o mercado musical está cada vez + saturado, acontece um sobe e desce de artistas que antes não víamos, duplas que chegam pra ficar estão cada vez mais raras, mais difícil repetir os fenômenos Leandro e Leonardo, JP e Daniel, Zezé e Luciano. Mas acredito que todo sonho é possível e se a dupla acredita no seu potencial tem mais é que correr atrás, se ficar parado e não fizer nada ai que o sucesso nunca acontece mesmo. Gosto muito de uma frase da dupla Victor&Leo que faziam música sem correr atrás do sucesso, acho que o segredo está aí, fazer um trabalho bem feito...

..., divulgá-lo, aproveitar as oportunidades, sem se focar unicamente em VOU SER FAMOSO UM DIA, pq se essa fama não vier ninguém vai ficar frustrado, será um bom profissional no que faz mesmo que não conhecido nacionalmente, as melhores coisas acontecem quando menos as esperamos e quando, sem perceber, já fizemos por onde merecê-las!

Ótimo o Post. Simplesmente ótimo mesmo!
Creio que todas as duplas que estão surgindo, investidores destas duplas, Pais, família e amigos, deveriam ler esse Post.
Hoje em dia não basta ter uma voz legal, uma roupinha apresentável que dê pra você ir ao menos ao Raul Gil, tem que ter tudo isso ai que o Danilo disse mesmo, carisma, objetividade, paciência, personalidade, brilho e DIFERENCIAL, diferencial na minha opnião é o mais importante, tem muita coisa boa surgindo sim, só que é cópia do Luan Santana, cópia do Jorge e Mateus, no meu ponto de vista o mercado não precisa de mais um Luan, mais um Jorge e Mateus, o mercado precisa de coisas novas, coisas que venham pra INOVAR! Um Jorge, um Sorocaba, um Luan, o mercado já tem. Cópias não são necessárias. E outra coisa, os nomes das duplas, tá uma coisa de louco. "João e Mateus", "Jorge e Sorocaba", "Zézinho do Picolé Santana", creio que INOVAR no nome da dupla seja o primeiro passo para a objetividade do trabalho diferenciado!

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