sexta-feira, 22 de julho de 2011

Na Estrada com a Gang do Eletro

A Gang do Eletro ao vivo é sempre uma experiência. Chega até soar paradoxal que uma banda que faz um som eletrônico, sem instrumentos convencionais, destaque-se em suas apresentações ao vivo. Tudo por conta da batida orgânica de Waldo Squash e do forte carsima pessoal de cada um dos três vocalistas: Marcos Maderito, Keila Gentil e Willian Love. Já assisti quatro apresentações desses malucos, em quatro ambientes completamente diferentes e eles roubaram a cena todas as vezes.


Maderito Super Star


A primeira foi do bairro do Jurunas, na perriferia de Belém. A banda faria a abertura do show de Gaby Amarantos que seria filmado pelo diretor francês Vincent Moon, para posterior lançamento de um DVD na Europa. Na época eu só tinha um contato mais íntimo com Maderito e Waldo, ainda considerava Keila e William cantores da Eletrohits, banda gêmea da Gang e também produzida pelo Waldo. Quando vi o casal de baixinhos chegando na casa de Gaby, não botei muita fé, mas um detalhe me aguçou a curiosidade, um grupo de meninas entre sete e dez anos cercou Keila e todas fizeram questão de beijá-la e abraçá-la. Achei um treco bonito de ambas as partes.

Minha desconfiança logo se dissipou e em poucos minutos já estávamos todos tomando cerveja, conversando e cantando. Sim, cantando. Tanto Keila quanto William revelaram-se verdadeiros fãs de tecnomelody, sabiam as letras dos principais sucessos. Maderito estava sofrendo as dores de um misterioso reumatismo e permanecia sentado a maior parte do tempo, o que não o impediu de cantar a capela de um pout pourry de eletros para um grupo de - de novo elas - crianças na varanda da casa da Malaca do Jurunas.

Waldo eu já tinha conhecido na véspera, quando fui na sede da Green Vision me encontrar com a cineasta Priscila Brasil. A cena foi de cinema. Toquei a campainha da porta que tinha o número que o porteiro do prédio tinha me dado. No entanto a porta que se abriu foi lá no fundo do corredor. O cara que abriu olhou pra mim e perguntou: "Você é o Timpin?". Minha resposta foi: "E você é o Waldo Squash?" O Nascimento de uma Amizade, é o título dessa cena de cinema.

O palco montado no Jurunas era pequeno e baixo, perfeito para as dezenas de crianças que o cercaram para assistir a Gang do Eletro tocar. A empolgação da molecada foi tão grande que em determinado momento eles invadiram o palco e banda teve que parar tudo para garantir a segurança. Foi o primeiro sinal que percebi de que aquela banda estava fadada ao sucesso, as crianças não costumam se enganar em seus julgamentos musicais. Saí do Jurunas com a certeza de que o que eu tinha visto, ainda seria evocado pelos livros de história.


Crianças invadem o palco durante show da Gang do Eletro no Jurunas, em Belém


Passaram-se quatro meses até eu assisti-los de novo. O ambiente era o extremo oposto da palco improvisado no bairro pobre do Jurunas. Desta vez eles haviam sido escalados para participarem de um projeto ambicioso criado pela TV Cultura do Pará. Quinze artistas parenses, cobrindo todas as vertentes musicais do estado, apresentando-se no mesmo palco - no caso o Auditório do Ibirapuera, em São Paulo - , com direção artística de Carlos Eduardo Miranda e Cyz Zamorano. Considerados novatos, a eles foi concedido espaço para tocarem uma música. Escolheram um pout porry de eletro melodys, com ênfase na música "Galera da Lage".

Foi um pandemônio. Nem eu que já conhecia a banda estava preparado para o que vi. Se antes Maderito era o líder com um casal de coadjuvantes, agora os três tomavam o palco em condições de igualdade. O imenso palco do Ibirapuera ficou pequeno para os três. O público não sabia pra que lado olhava. William está cada vez mais se soltando, vencendo uma timidez que limitava suas performances e Keila... Bem, Keila cresce como estrela a olhos vistos, chamou pra si a liderança e com sua dança da robô e seu treme-treme sedimentou a Gang do Eletro como a grande surpresa da noite.

Isso sem contar com o reconhecimento ao trabalho de Waldo Squash, que subiu ao palco antes de sua banda, para emprestar suas batidas ao som das guitarradas e não saiu mais de lá. Waldo é um ícone da música do novo milênio. Com formação de mecânica industrial, é na atualidade a personalidade de maior referência da música paraense. Todos querem suas batidas, que no show do Ibirapuera cairam como uma luva tanto na guitarrada de Felipe Cordeiro, como no flash brega de Edilson Moreno ou o tecnomelody vanguardista de Gaby Amarantos. Waldo Squash é o cara!


Waldo Squash e Timpin instante após o primeiro encontro cinematográfico


Foram duas noites seguidas no Ibirapuera. A segunda foi ainda mais agitada, um grupo de pessoas levantou-se das cadeiras e foram dançar e pular na frente do palco. Até pessoas de idade avançada erguiam os braços para fazer a coreografia da "Galera da Lage". Assistindo aquilo eu relembrava as crianças invadindo o palco no Jurunas e enchergava mais um sinal. Me senti no Cavern Club assistindo os Beatles tocarem.

Após o festival, enquanto os outros artistas voltavam pra Belém, a Gang seguiu para a sede do coletivo Fora do Eixo, onde fariam uma apresentação no domingo e onde se hopedariam até tocarem no meio da semana no Studio SP, uma casa de show localizada no bairro da Liberdade. Eu já estava agregado a banda, quase como um quinto elemento. Na saída dos dois shows do Ibirapuera tinha dormido no sofá do quarto de hotel de Keila e William, após encher o rabo de cerveja no bart de um Paraíba que ficava na quadra ao lado. No Ibirapuera não tinha cerveja, já no Fora do Eixo tinha. E de graça. Óbvio que aquilo lá não teria a mínima chance de dar certo.

Quer dizer, até daria, porque a cerveja era servida em copos de plásticos pequenos e era trabalhoso ficar abastecendo toda hora, só que um litro de Ypioca cruzou o meu caminho. Alguem tinha conseguido a pinga para experimentar a mistura com uma iguaria exótica que o povo tinha trazido do Pará e deixou a garrafa justamente na mesinha em frente ao sofá onde eu estava sentado. Eu fiquei olhando pra garrafa, a garrafa olhando pra mim e por fim rolou um sentimento. Foi tudo muito rápido.

Eu estava vestindo uma camisa de botão e gola que o Willian tinha me emprestado e uma gravata que o pessoal tinha comprado de uns hippies que montaram feira por lá. Quando o show da Gang começou eu já estava visivelmente manguaçado, pulando feito uma perereca epilética. Na platéia não tinha mais do que vinte cabeças, mas diversas pseudo-celebridades do underground estavam lá. Músicos como Juca Culatra, MG Calibre, a própria Gaby Amarantos - que fez uma palhinha - e uns caras de uma banda de hard core de Campo Grande. Gregos, troianos, persas, chineses e pelotenses, a Gang mais uma vez provou que agrada a todos. E mais um vez exagerei na cachaça e fiquei miseravelmente bêbado. O parágrafo seguinte pra mim é literatura e os fatos foram reconstituídos baseados em relatos orais de populares que estavam por lá.


Na platéia, Timpin, a perereca epilética, ainda com a gravata que momentos depois tentaria assassiná-lo carbonizado


Consta que após o show eu subi de quatro as escadas que levavam ao segundo andar onde ficavam as acomodações e me joguei na primeira cama que vi. Mais tarde a dona da cama foi me acordar e armei o maior barraco, berrando que ali só tinha corno e baranga. Colocaram um colchão no chão e me depositaram lá, até a bebedeira passar. Instantes depois acordei agoniado com a gravata e posto que não conseguia desfazer o nó, tive a brilhante idéia de queimá-la com um isqueiro. Consegui tirar a gravata, mas acordei com queimaduras de terceiro grau em três dedos da mão direita e mais perdido que filho de puta em dia dos pais.

Claro que fui motivo de chacota nos dois dias seguintes que antecederam o derradeiro show no Studio SP, mas como diz a sabedoria popular: todo castigo pra corno é pouco. Para o show, Waldo tinha comprado uma filmadora e faríamos o primeiro registro de um show completo da Gang. O clima era de expectativa, afinal o Studio SP é frequentado magoritariamente por roqueiros indies, a banda poderia ser hostilizada. Mas não, os indies rebolaram, desceram até o chão toda a vez que os cantores solicitaram e se divertiram muito.

O que de comum observei nas quatro apresentações da Gang do Eletro é o ar de unanimidade e simpatia. Eles conquistam a simpatia de todos com sua humildade e sinceridade. Apesar de soarem como a grande novidade da musica pop brasileira e da pouca idade, eles tem larga experiência, começaram muito jovens e já ralam a mais de quatro anos, o que os torna mais blindado quando ao deslumbre do excesso de elogios e do eminente sucesso. Sem terem sequer um disco pronto, a Gang do Eletro, onde quer que se apresente, deixa em quem os assistiu aquela sensação de privilégio por ter visto um fenômeno ainda em seus primórdios. Esses moleques ainda vão fazer muio barulho...

Video nos Bastidores - Gang do Eletro, Juca Culatra e Timpin

2 comentários:

Um bando de maluco reunido!!!!!!!!!!!!!

E o Maderito com blusão da Força Jovem, dá-lhe Vascão!!!!!!!!!!!

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