segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Wagner Pekois, o novo grupo Tradição e o Troféu Timpin de Topeira do Ano

Já fazia meses que estava tentando conversar longamente com Wagner Pekois, guitarrista do Tradição, sobre os desafios que a banda enfrenta depois que Michel Teló saiu fora, deflagrando uma série de baixas que levou a deixá-lo como único membro da formação original. No último dia 26 eles estariam em Curitiba para se apresentarem no Vitória Villa. Era a oportunidade de ouro. Liguei pro cara, combinamos a entrevista, dei meu telefone e pedi pra que ele me ligasse no dia, dizer onde estava e acertarmos os detalhes.

Quando dei a notícia pros meus filhos eles ficaram mais feliz que filhote de ganso em taipa de açude. Nos últimos dias o Arhur - oito anos e skatista iniciante - já fazia contagem regressiva, falta três dias, falta dois, é amanhã pai! Alice - quatro anos e mala sem alça sênior - consumiu as últimas reservas de paciência da familha cantando a música "Te dou o céu" pra repassar a letra e não fazer feio no dueto que pretendia fazer com o novo vocalista Guilherme Bertoldo.

Até a Mylena, que tem 12 anos e como chegou a pouco tempo do nordeste ainda não teve tempo de ser contaminada pela febre de fanatismo que a galera tem lá em casa pelo Tradição, se empolgou para ir junto.

Chega o bem-dito dia e tô eu lá no Orkut, na hora de meio-dia, o Pekois me encontra on line e em vez de me ligar, o viado resolve combinar tudo por ali mesmo. Sabe como é, o cara quando quer dar uma de bem bom e posar de bem relacionado pros colegas de trabalho, acaba comprando corda para o próprio enforcamento. Falei pra todo mundo:

- Ó vou me encontrar com os caras do Tradição nesse tal de Hotel Bristol hoje de noite!
- Porra, esse hotel aí chique pra cacete, deve ser até seis estrelas, fica ali no lado da Rua 24 Horas.
- Então fechou a polenta, vou filar uma meia dúzia de chopes e um jantar filé num restaurante do meu nível às custas do Tradição.

Daí só fiquei falando merda com o Pekois até que o dono do PC chegasse e me chutasse da cadeira. Liguei pra casa, dei a notícia pro povo e combinamos de nos encontrar as 18:45 no terminal tubo da Estação Central, no alto do Calçadão da XV.Quando o biarticulado encostou e galera desceu, vi que até a Dafne, filha da vizinha, integrou o combo.

- Caralho! Os caras vão pensar que eu trampo numa creche comunitária.

Aí pensei - ah, não dá nada, os caras são gente boa - e começemos a descer o calçadão em direção à 24 Horas. Não tinha anotado o número, mas lembrava que o hotel ficava na rua XV de novembro número mil e lá vai cacetada, então era só ir em frente até encontrar a placa Hotel Bristol. Atravessamos todo o calçadão, atravessamos a Praça Osório, passamos pela rua que ia dar na 24 Horas, andamos mais quatro quadras e nada do lazarento do Hotel. O pessoal já estava começando a ficar impaciente, principalmente minha esposa, sempre respectiva aos mínimos motivos para me encher o saco.

- Pede informação ué, pergunta praquele taxista ali.

O taxista não sabia me informar com precisão onde ficava o hotel. Perguntou se eu não sabia a rua e o número. Disse que só sabia a rua. XV de novembro.

- Ah meu filho, então você está procurando no lugar errado, a rua XV de novembro fica lá pra trás.
- Mas essa aqui não é a XV de novembro?
- Não, essa daqui é a Comendador Araújo.
- Quer dizer que a rua muda de nome depois que passa pela praça
- Sim!
- Mas, mas...tenho certeza que a rua era XV de novembro, numero e alguma coisa...
- Então esse hotel fica no Alto da XV, bem longe - e ficou me olhando como quem diz, opa! ganhei uma corrida, sem imaginar que eu estava liso.

Minha mulher ouviu a conversa toda e ficou me olhando como se eu fosse um inseto. Liguei pro Pekois, fora de área. Liguei pro novo baixista Lelê, desligado. Mas péraí, o cara da firma que tinha me dado a dica da localização era o Saul o mestre da logística que é capaz de achar o Hotel Pindaíba em Bodocó só pelo cheiro, liguei pra ele. Me falou que na verdade o hotel ficava na Visconde de Nacar. Nervoso, peguei todo mundo pelo braço e voltamos as quatro quadras e no local indicado, não achei nenhum Bristol, somente um De Ville. Liguei de novo pro Saul e ele me respondeu que então tinha se confundido com os nomes. E desligou. E eu descobri na prática a diferença entre as palavras logística e etimologia. Era bom com orientação e ruim como nomes, sacou mané?

Estagiários de psicologia sabem que quando o desepero se instaura em uma criatura, o primeiro traste inútil que ela se livra pra não afundar é a racionalidade. Fui perguntando pra cada um que encontrava na rua onde ficava o hotel, recolhendo informações confusas e contraditórias e andando, andando muito. Quando passamos pela terceira vez pela mesma esquina o otimista Arthur falou, entre divertido e apreensivo.

- Papai, parece que estamos perdidos numa floresta, andando em círculos.

E minha ficha e minha casa caíram. A noite estava fadada a passada no sofá. O que restou para tentar me redimir com os moleques foi levá-los para praticar contravenção autorizada, brincarem de patinação no sitio arqueológico da Praça Tiradentes. Lá tem umas ruinas em exposição protegidas por uma chapa de vidro. As acrianças adoram brincar em cima daquilo e de dia sempre tem um guardinha que proibe. De noite não.

Claro, ainda fiquei tentando ligar no celular do Pekois e toda hora conferindo se ELE por ventura não me ligaria notando meu atraso. O puto não ligou. Eu só não me injuriei e dei um Control Del em toda a discografia do Tradição quando cheguei em casa, porque assistimos a apresentação natalina das crianças cantantes e dançantes do Palácio Avenida. Foi emocionante e ora xongas, vamos admitir, a noite até que terminou legal.

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