quinta-feira, 29 de julho de 2010

3 na Palomba - A arrochadeira desgramada que está contagiando o Brasil

Um novo vírus está devastando o interior da Bahia e o risco de que se espalhe pelo resto do país é grande. Não estamos falando de gripe aviária, gripo do porco, do viado ou do corno. Estamos falando da Palomba, o mais recente ritmo musical criado no caldeirão cultural baiano, surgido em Vitória da Conquista com o lançamento do primeiro disco da banda 3 na Palomba.



Apesar de muito criticado devido a simplicidade das notas e dos acordes, o número de bandas tocando Palomba - muitas delas copiando descaradamente o repertório da 3 na Palomba - já passou da dezena e o viral não pára de se alastrar.

Realmente, o som é de uma simplicidade extrema. Extruturado em cima de duas notas simples, com uma guitarra dedilhada, teclado emulando metais e letras beirando o absurdo e o nonsense, acabou caindo no gosto popular, confirmando o que dizia o antropólogo paraense Marlon Branco no documentário Brega S/A: o povo gosta de uma fuleragem.

Os responsáveis por esta nova afronta ao "bom gosto musical" da "elite cultural" brasileira - faz tempo que quatro aspas não são tão bem justificadas em um texto meu - são quatro personagens, que compõe um história que mais uma vez vem comprovar que a realidade muitas vezes costuma superar a ficção.



Tudo começou em 2008 em Itapé, cidadezinha com menos de 20.000 habitantes no interior da Bahia, quando dois jovens irmãos, de nomes Val e Téo tiveram a brilhante idéia de roubar a porta de ferro que sua própria mãe tinha instalado em casa e vender pela vultuosa soma de R$ 18,00. Em 99,99999% dos casos de roubos como esse, o dinheiro é torrado em pedras de Crack. Só que no caso de Val e Téo, as razões eram artísticas: realizar o sonho antigo de gravar um CD, fazer sucesso e aparecerem no Faustão.

Ao chegarem no estúdio, qual não foi sua surpresa ao serem comunicados que o valor não era suficiente para gravar sequer uma música. Mas como a alma humana por vezes é capaz de caridades que surpreenderiam uma Madre de Calcutá, eis que o dono do estúdio deu tapinha nas costas dos meninos e diz:

- Rapazes, façam o seguinte. Vão ali padaria, comprem uma vodka e dois litrões de Coca-Cola que a gente desenrola a parada.

E assim começaram os trabalhos.

O repertório da dupla era um emaranhado de versões de músicas de forró e arrocha com letras diferentes, que na maioria das vezes não faziam o menor sentido como "dei um tapa na bunda dela e chamei pruma pisada / o que eu não vi foi nada". Ou então: "Você tá ficando esperta / você tá ficando boa / não vou botar aliança em dedo de coroa".

Na ocasião o guitarrista presente no estúdio chamava-se Cristiano, nosso terceiro personagem, um roadie da banda de arrocha Fuska Virado. Coube a ele a bronca de improvisar um arranjo de guitarra que desse conta da total ausencia de noção e sensatez do que os meninos estavam cantando. Começou a dedilhar sua Fender Stratocaster, o músico do teclado acompanhou e no final, todo muito bêbado, o disco ficou pronto e os meninos sairam com o disquinho de baixo do braço, meio que no cagaço do esporro que certamente levariam da mãe.

Infelizmente ninguém levou o trabalho a sério e o sucesso não veio. Intitulado Rei da Palomba, o disco ficou esquecido na prateleira da casa deles e num arquivo morto do 4shared. Um ano depois, Jessé Correia, um produtor musical de Vitória da Conquista, navegando de bobeira na Internet, baixou o arquivo e gostou do que ouviu. Gostou muito.

Imediatamente ligou para seu amigo Diego, também produtor musical que morava em Itabuna, próxima de Itapé para propor que criassem uma banda e resgatassem a Palomba do esquecimento. Depois de várias ligações o acordo acabou não ocorrendo. Diego montou outra banda com Val e Leo - que acabou por não dar certo - enquanto Jessé ficou com Cristiano, o guitarista que criou o ritmo e começou a recrutar os membros da nova banda 3 na Palomba.



O modelo seria semelhante à banda Bonde do Maluco, com três vocalistas. Os microfones foram distribuiídos entre o próprio Jessé, agora com o nome artístico de Geo, mais Neto, que era o dono do estúdio em que o disco de estréia seria gravado e um amigo chamado Billy, que tinha uma banda que não estava emplacando, obrigando-o a sobreviver como vendedor. A formação foi fechada, com Cristiano, o guitarrista Didú e o tecladista Luciano.

Na manhã de 14 de dezembro de 2009 o time completo reuniu-se em estúdio. A gravação foi praticamente ao vivo. Escutavam uma música do disco de Val e Léo, e regravavam em seguida, num clima de descontração e improvisação, com os vocalista soltando frases e conversando entre si na hora dos solos.

Logo de cara, já na primeira música, Neto solta a frase "3 na Palomba, diretamente da Espanha". Surpreso, Geo pergunta "porque Espanha?". A resposta foi "os outros faz e nóis panha!". A tiradinha acabou sendo o mote da banda, sendo repetida em várias faixas. O repertório foi quase igual ao do disco original, com o acréscimo de umas poucas músicas, como os sucessos "Lobo Mau" e "Bicicletinha".

Nove horas da noite Jessé saiu do estúdio com o CD pronto, passou numa empresa de diagramação e fez a capa, sem foto nem imagem, apenas com o nome da banda e na manhã seguinte largou nas mãos dos camelôs. Foi tiro e queda. Três dias depois as músicas já estavam sendo tocadas nos carros e três semanas depois a empresa Rasta Shows já estava entrando em contato com a banda para agenciá-los.

A parceria deu certo e a banda está empreendendo uma bem sucedida turnê, já tendo feito shoes até em São Paulo. Os shows são divertidíssimos, com os três vocalistas caracterizados e máscarados como o Gato de Botas, o Burro do Shrek e o Lobo Mau, tornando-os sucesso entre o público infantil. Tanto que no segundo disco incluiram uma sequência de músicas infantis.

A julgar pela quantidade de bandas entrando na onda da Palomba - até a maior banda de arrocha do Brasil, o Bonde do Maluco, incluiu duas Palombas em seu recente Volume 5 - o ritmo veio pra ficar. Por se tratar de uma novidade ainda muito recente, talvez ainda necessite de um carnaval para realmente deslanchar.

O que é certo é que os videos com passos de dança inusitados ao som das músicas dos 3 na Palomba estão pipocando na Internet. Como a parada é parada de divertida, estou afim de filmar o meu? aconselho o leitor a baixar os dois CDs nos links abaixo e poderar a possibilidade de também gravar o seu vídeo com o seu passo.

3 na Palomba - Volume 1

3 na Palomba - Volume 2

3 na Palomba - Volume 3

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